quinta-feira, agosto 07, 2008

As Viagens de Nelson



Cansado da rotina que levava, Nelson Felix Sampaio Junior, aos 19 anos, tomou uma decisão radical: largou tudo. Juntou algumas economias, colocou uma mochila nas costas e partiu para conhecer o mundo. Filho de uma família de classe média paulistana, deixou o lar, a chance de um futuro promissor em uma grande operadora financeira, para viver uma longa viagem por vários estados brasileiros, atrás de algo que ele não sabia ao certo, mas que há algum tempo o incomodava.
Em pouco tempo, a renda que lhe garantiria segurança acabou. Para conseguir dinheiro, teve que se virar. Foi em Maceió (AL) que produziu e vendeu artesanato, aprendeu a dormir nas ruas e ‘manguear rango’ (pedir comida). Levava uma vida de aventuras e de irresponsabilidades. Usou todas as categorias de drogas, envolveu-se com traficantes, percorreu o polígono da maconha pernambucano. Nelson não se importava com o que acontecia em casa, a milhares de quilômetros de distância. Pois vivia o seu grande momento, sentia a liberdade, estava entre os seus, que assim como ele, carregavam uma rebeldia contra o mundo que não os compreendia. Passou grandes riscos, como os 60 dias na cadeia, ou quando se embreou no mato para fugir das balas que silvava o seu corpo.
Até tentava se livrar disso. Por períodos, Nelson regressava ao lar. Mas o que via não o motivava. Pois, assistia a degradação da família. O pai, um ex-empresário, entrara na criminalidade, a descoberta da doença que levaria sua mãe e a perdição de outros parentes. Na verdade, essa tragédia o incentivava a voltar à estrada.
Embora no submundo, tentava deixar as drogas, não conseguia. Às vezes, parava para pensar sobre a sua situação: “O que estava fazendo na terra?”; “Para que prolongar seus dias?”, se perguntava.
Cativante, conseguia atrair e reunir pessoas. Vivendo como eremita, numa cabana, no meio do mato, tomou uma decisão que sinalizaria o seu futuro. Num certo dia, ele e mais um companheiro de ‘vida errante’ decidiram, sem nenhuma explicação, subirem em dois montes e simplesmente clamarem: “Comecei a falar com Deus”, recorda. “Ao mesmo tempo, senti que algo despertou”.
O vazio, que lhe fazia viver uma busca incessante, estava prestes a ser preenchido. Mas antes que a jornada chegasse ao fim, descobriu que era portador de uma doença sem cura. Esteve entre a vida a morte. Até que foi resgatado por familiares, aqueles que um dia abandonara.
Numa casa de recuperação de Praia Grande (SP) teve sua maior surpresa e encontrou o que procurava, o que tanto queria, a motivação de vida: Jesus Cristo. Pela primeira vez, em mais de 10 anos, não se sentia oco. Novamente, uma mudança, agora real.Não via mais a necessidade de fugir. Foi em 2000, o ano de sua redenção, da conversão, do encontro verdadeiro. Aprendeu novos valores: obediência, servidão, compartilhar, responsabilidade. Pediu perdão aos pais pelos erros do passado. “Eu tive que morrer para nascer de novo, por meio da palavra de Deus”, revela.
Os milagres começaram a acontecer. Um casamento, um filho, ambos sadios, livres da doença. O mais importante, o agir do Senhor entre seus parentes, que aos poucos também se renderam a Cristo. E passaram a escrever uma nova história. “Através do evangelho, Deus está convertendo toda a minha família”.
Nelson, que faz tratamento e que o deixa em uma ótima forma, acredita que a doença, é o seu “espinho na carne”, para sempre lembrar que o poder de Deus se aperfeiçoa na fraqueza. “Não me considero doente. Sou curado em Cristo”.Há quatro anos, ingressou na Fatep (Faculdade Teológica Peniel), mais do que atender a um chamado, Nelson, que integra a Peniel Humaitá (São Vicente-SP), está aprendendo a escutar a voz do Senhor, a ser cristão. “A liberdade que eu procurava trouxe destruição e rebeldia. Hoje, eu me amo e me respeito pelo conhecimento de Jesus. Sou livre e um homem feliz”.