domingo, janeiro 21, 2007

Alguma coisa há!

Estelionato, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, evasão de divisas e abertura de empresas fantasmas. Ao longo da história brasileira, já ficou comprovada que estas são algumas das práticas que corruptos utilizam para levar vantagens e desfalcar os cofres públicos. Embora essas ‘especializações’ possam fazer parte da ficha corrida de criminosos desta natureza, estas também são as formas que o Gaeco (Grupo de Atuação de Repressão ao Crime Organizado), órgão do Ministério Público do Estado de São Paulo, garante que o casal Estevam Hernandes Filho e Sônia Haddad Moraes Hernandes, utilizou à frente da Igreja Apostólica Renascer em Cristo - segunda maior denominação neopentecostal do País em número de fiéis e de templos no Brasil, da qual o casal é fundador - para dar finalidade às doações, dízimos e ofertas, dos fiéis da igreja.
Com 10 volumes e 20 testemunhas arroladas, o processo que tramita na 1ª Vara Criminal já resultou no bloqueio de bens e contas bancárias do casal Hernandes e mais quatro pessoas ligadas à denominação. Para completar, o MP pedirá para que a justiça americana investigue o casal por lavagem de dinheiro.
Não é de hoje que os líderes da Renascer estão enrolados com a Justiça e não conseguem dar explicações convincentes sobre transações, no mínimo suspeitas. A prisão nos Estados Unidos, após mentirem sobre a quantidade de dólares que carregavam na bagagem e logo depois de conquistar uma liminar, que cancelou um pedido de prisão no Brasil, pode revelar muito mais do que a Justiça procura. Será que dá para acreditar nas afirmações do casal? Até que ponto, milhares de pessoas não foram usadas, como massa de manobra, para que um império fosse construído em apenas 20 anos? Há alguma explicação para que o casal possua uma fortuna estimada de R$ 19 milhões e, ao mesmo tempo, a Renascer tenha dívidas que se aproximam dos R$ 15 milhões? Na verdade, essa saída para os Estados Unidos não seria uma forma de tentar escapar das punições que os esperam por aqui? Sem dúvida que muita coisa precisa ser esclarecida, mas pela sucessão de acontecimentos, as respostas são cada vez mais óbvias.
Agora que tudo veio à tona e os escândalos aparecem nos jornais, é fácil os líderes da denominação dizerem que são vítimas de perseguição. Essa afirmação vale um questionamento: Será que se nada de escuso ou mal explicado não tivesse sido realizado no passado, esses assuntos estariam ganhado as manchetes e a atenção de todos?
É correto afirmar que o Brasil ainda não está maduro para compreender os evangélicos e, por sua vez, os evangélicos ainda não ganharam a simpatia da maioria da população, agora achar que, nesta montanha de acusações, só existem mentiras e calúnias com o objetivo de destruir o reino de Deus, é a mesma coisa que tentar inocentar os políticos envolvidos nos escândalos dos Sanguessugas e do Mensalão, é afirma que o presidente Bush não quer aumentar o genocídio no Iraque ou ainda acreditar cegamente que o Brasil está preparado para sediar uma Copa do Mundo. Porém, antes que a sociedade e, principalmente, a imprensa, façam um julgamento precipitado e o aniquilamento das imagens dessas pessoas, é fundamental que tudo seja apurado e comprovado com devido rigor. E no fim, a Justiça seja feita e os culpados recebam as punições à altura dos danos provocados.
O mais importante é que, nesta empreitada, a sociedade não confunda a igreja e a sua contribuição, com as artimanhas de seus líderes. É indiscutível reconhecer que milhões de pessoas conquistaram melhores condições de vida e se tornaram seres humanos renovados através dos trabalhos sociais e religiosos desenvolvidos pela Renascer. Uma coisa é a mensagem deixada por Cristo, outra são os falsos profetas que tiram vantagem dela, para construírem impérios e enganarem multidões. Por isso, que a Bíblia é enfática em afirmar que a ‘Salvação está em Cristo Jesus’ e em ninguém mais.